Renato Sá – Uma vida de sonhos

Cacau Menezes escreve sobre seu amigo, o jogador que fez fama no Botafogo

TEXTO: CACAU MENEZES
FOTOS: MARCO CEZAR

 O fotógrafo Marco Cezar é daqueles que não deve ter inimigos. Nunca fez mal a ninguém, nunca falou de ninguém,  nunca disse não pra ninguém. Isso é o que eu e os que o conhecem pensam. Mas levando-se em conta a margem de erro, digamos que acertamos em pensar que 95% dos que conhecem o Marco Cezar o acham um cara leal e legal demais.  Se nunca me disse não para as muitas coisas que já pedi para ele fazer, comportando-se sempre como um garoto de 20 anos e não os 70 que tem mas não aparenta, não importando o dia e nem a hora, lá esta sempre  atendendo aos meus pedidos, então ao me intimar a escrever qualquer coisa sobre o nosso amigo e ex-craque Renato Sá para a sua revista Mural de final de ano, aqui estou numa tarde ensolarada de domingo ouvindo sozinho no quarto de casa Chet Baker para atender à pauta do Marco. Renato Sá, Avaí, Botafogo, dezembro, fim de ano, festas, férias dos boleiros…Let`s go, crazy people: a  hora é agora.

Se não fosse jogador, Renato Sá seria um plaboy do jet set que ele conseguiu ser agora. O menino sempre tímido de Tubarão que veio jogar futsal em Floripa, acompanhando sua família que se mudou para cá, nasceu com o  bumbum pra lua: antes de assinar seu primeiro contrato como jogador de futebol já ganhou do então presidente do Conselho Deliberativo do Avaí, José Matusalém Comelli, um dos donos do clube e da cidade, seu primeiro carro, um Chevette preto zero quilômetro. Não era comum. E se não desse certo? Então lá se foi o “De Sá” gurizão, boa pinta, saindo na capa do jornal O Estado, da família do patrono do clube e sogro do Comelli, Aderbal Ramos da Silva, quase todos os dias. Notícia era diferente, rendia  badalação. 

Seu primeiro treino no campo do BAC, em Biguaçu, pelo Avaí,  como profissional,  trocando o tênis do futsal pela chuteira, foi um grande acontecimento em Floripa antes que chegasse o Carnaval.

Comelli estava certo. Renato Sá deu mais do que certo, jogou o suficiente no Avaí para pagar com juros e correções monetárias o Chevette que ganhou para treinar, como começou a melhorar a presença de público – feminino, jovens e beautiful people – nos jogos do clube, não só no Campo da Liga e Orlando Scarpelli, como no Estado todo. Virou estrela rapidamente. Qualificou o time do Avaí, que já tinha Veneza, Lico, Balduíno, Ademir, Toninho, Juti, Zenon, uma geração de craques que jogaram nos maiores times do Brasil. Renato virou ídolo do Figueirense também, no Grêmio de Porto Alegre, onde foi campeão brasileiro e onde teve o prazer de jogar com Paulo Cesar Caju, além do  Atlético  Paranaense, Botafogo  e  Vasco da Gama. 

No Botafogo foi o auge. Quebrou com um golaço uma invencibilidade de 52 jogos do Flamengo com mais de 120 mil torcedores no Maracanã. E eu estava lá. Fui ao Rio entrevistar Renato, que era muito meu amigo, para o meu jornalzinho Rock, Surfe e Brotos, e fiquei cinco dias no apartamento que o Renato morava em Copacabana com o Marcelo Oliveira, hoje treinador. Os dois titulares do Botafogo. Renato tinha um Puma vermelho, o sonho de consumo de dez entre dez boleiros que jogavam no Rio, o melhor lugar pra se jogar futebol no Brasil. Cidade do Maracanã, de lindas praias, da Rádio Mundial, do Cristo Redentor, de Jairzinho, Zico, Paulo Cesar, Gerson, Didi, Garrincha, dos brotinhos do Posto 9 em Ipanema. Renato Só estava no céu. E famoso, fazendo gols e grandes partidas.E a fama atrai mulheres, negócios, dinheiro. Tudo que Renato Sá teve.  E quando conseguia  uma folga, corria era pra cá. Pra sua Floripa, onde estavam a família, seus melhores amigos, a Chandon e Lee 88 e ela, a futura e única mulher.

Entre os melhores amigos, acho que eu e o Boneco estamos no páreo. Talvez eu tenha sido o que melhor soube  explorar a imagem do Renato, tanto que, escondido dos cartolas cariocas, o jogador famoso e bem pago do glorioso Botafogo de Futebol e Regatas quando vinha pra cá  tirava a chuteira, o tênis, o sapato caro e ia  jogar pelada  na chuva e em  campo de barro com o time do Beijo, como fazia o Garrincha da seleção com seus amigos de Pau Grande, subúrbio do Rio.  E foi aqui, nessas idas e vindas, que Renato conheceu Fernanda Bornhausen, única filha mulher do então governador, o poderoso Jorge Konder Bornhausen e de dona Deia. Claro que na província houve comentários: como pode uma filha de governador, ainda mais um Bornhausen, namorar um jogador de futebol? Sim, Fernanda quebrou esse preconceito bobo e até hoje vivem juntos, felizes, com dois filhos altas cabeças, numa bela casa na beira da Lagoa da Conceição, viajando pelo mundo, curtindo as melhores festas, os melhores champãs e restaurantes, as melhores grifes,  com os amigos que eles escolheram, que  não só os milionários e poderosos, como também pessoas simples, pobres, dos morros. Pessoas que tanto Fernanda, por ser filha de político, como Renato Sá, por ser jogador de futebol,  conheceram e aprenderam a gostar. E a fazê-los melhores.

Hoje, não tenho dúvidas, conhecendo a classe: Renato Sá do futebol é, disparado, o que se tornou o mais interessante. As festas o salvaram da mesmice; samba, cerveja, pelada, pagode, sinuca, churrasco, barriga grande. Renato deve gostar disso tudo também, como todo brasileiro e futebolista: mas prefere nessas ocasiões levar de casa na sua bolsa térmica o vinho ou a Veuve Clicquot. 

Não podia ser diferente mesmo para quem começou a carreira no Avaí e teve como segundo time o Botafogo do Rio ainda no auge. Quem começa por cima dificilmente vai mudar seus gostos.

Veja a revista na integra.

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