Guga Arruda – Alma de surfista

Guga Arruda exibe a mais bela face da devoção, talento e carisma de quem nasceu e incorporou a cultura do mar ao seu cotidiano

por OLAVO MORAES

Dropar as melhores ondas do planeta, projetar e fabricar pranchas, ensinar a arte do surfe, treinar atletas e desenvolver potencialidades, repassar os segredos do competidor profissional bem-sucedido. Amar a família e acompanhar o desenvolvimento do filho nas linhas verticais do skate e sobre as ondas. O momento de Guga Arruda exibe a mais bela face da devoção, talento e carisma de quem nasceu soul surfer e incorporou o mar ao cotidiano.

É a alma de surfista que alimenta o designer, professor, pai e marido. Guga vive do surfe. Criou a Powerlight, fábrica de pranchas com tecnologia de ponta, onde desenvolve modelos de alta performance, mais resistentes e leves. Tem uma longa e bem-sucedida história no esporte. Natural de Florianópolis, é especialista em ondas grandes. Tem 11 temporadas Havaianas. Foi o primeiro surfista a encarar a Pororoca, na Bacia Amazônica, e está no Guiness Book of Records.

No surfe de competição, esteve entre os 16 melhores do Brasil por sete anos, fez finais de mundiais WQS, participou dos WCT 2006 e 2007, superando adversários como o campeão mundial Mark Occhilupo e Bruce Irons. É bicampeão Catarinense Profissional. Professor de surfe, treina equipe de atletas. Também se desenvolve na mídia. Foi surfe-repórter, escreveu colunas, além de produzir e dirigir videos. Faz palestras, e sua próxima aventura é uma trip na Indonésia, entre julho e agosto. Casado com Milene, Guga tem dois filhos: Artur, o Tuco, de 12 anos, e Marina, de 15.  

Em uma tarde de inverno, o soul surfer conversou com a mural e falou sobre o seu momento. 

REVISTA MURAL: Como você administra as atividades diárias?

GUGA ARRUDA: Desde que parei de competir comecei a me dedicar a lecionar surfe e fabricar pranchas – que começou ainda durante a carreira de competidor e motivado por isso. Tenho bastante demanda nas duas atividades. Praticamente todos os dias eu entro no mar para lecionar, tanto para iniciantes quanto treinamento de surfistas avançados. E sempre dou uma passada na fábrica no mesmo dia. O que me beneficia é que é tudo no Rio Tavares. Dou aula na frente de casa, no Pico da Cruz, no meio da Joaca, no Campeche e na Joaquina, todas as praias do lado de onde moro. Praticamente não saio do bairro, mas corro o dia todo.

MURAL: Você é um surfista de alma. Como é ser um soul surfer?

GUGA ARRUDA: Entendo esse termo como alguém que ama o esporte, até mais do que a competição. Que faz parte da minha vida até mais do que o patrocínio, ou do que a remuneração. É o surfe de alma, que te faz emocionar, que te faz ser feliz, que te faz ser saudável, que te faz passar a cultura surfe como um legado para os filhos, para as novas gerações, para os alunos.

MURAL: Após parar de competir profissionalmente, ainda existe a busca pela performance?

GUGA ARRUDA: Eu tive na minha carreira a competição como atividade principal durante mais de 20 anos, sempre em busca da performance. Como soul surfer, não estou isento disto por ter parado de competir. Mas hoje direcionei a alta performance na busca por ondas grandes, tubos profundos, manobras radicais, ondas com fundo de coral. Hoje não preciso fazer três manobras rapidinho para ganhar uma nota. Posso curtir a onda do meu jeito. Posso pegar ondas grandes, posso me desafiar dentro do meu psicológico, do quanto de coragem tenho para me jogar na onda, do desprendimento para realizar um aéreo rodando, uma manobra acrobática. Dessa forma, cada vez mais me sinto um soul surfer. Porque estou menos impulsionado por finança, prêmio e status. Estou mais impulsionado pela verdade do meu coração, que quer surfar bem.  

MURAL: Quais são as tuas motivações?

GUGA ARRUDA: Eu fui um moleque que queria ser bom de surfe. O mais importante para mim nunca foi ser campeão disso ou daquilo, mas ser bom no que faço. Continuo nesta busca, e ela não tem fim. Acredito que vou envelhecer buscando uma onda grande, um tubo, um estilo, uma postura do meu corpo na prancha para realizar o meu melhor. Eu tenho toda a motivação na minha busca pessoal por performance, tenho toda a motivação pelo papel que ocupo de professor e treinador. De mentor, de facilitador das gerações que vem depois da minha.

MURAL: Desde os tempos de surfista profissional você faz a sua própria prancha. Qual é o sentimento?

GUGA ARRUDA: É uma magia muito grande. Isto é o que o surfista de raiz faz. Lá atrás, nos tempos idos quando o surfe começou no Havaí, se você não fizesse a sua prancha você não surfava. Porque não tinha uma loja para vender. Grandes surfistas, como Pat Curren, pai do Tom Curren, como Reno Abelira, enfim, como tantos nomes do surfe mundial, eles se tornaram shapers, porque, se eles não fizessem a prancha, eles não surfavam. 

MURAL: Como começou a produção de pranchas?

GUGA ARRUDA: Eu tive o Avelino Bastos, que fez as minhas pranchas. Muitos outros shapers me ajudaram. Mas, por paixão e desejo, voltei lá na raiz e comecei a fazer as minhas próprias pranchas. E comecei a surfar com elas ainda como competidor. Tive a oportunidade de ganhar duas etapas do Circuito Brasileiro usando pranchas que eu mesmo tinha feito. Competi etapas do WCT com campeões mundiais, como Mik Fanning, usando uma prancha que havia feito. Foi muito mágico na minha carreira, e acabou me chamando para esta outra profissão, umas das minhas principais atividades econômicas, a fabricação de pranchas. Estudei profundamente a hidrodinâmica, as construções e materiais, tecnologias. Porque queria surfar bem. Porque queria ganhar o campeonato fazendo uma prancha mais leve. Melhor do que as outras, e, por isso, me desse a performance. 

MURAL: E o processo de fabricação?

GUGA ARRUDA: Nesse processo, eu tive grandes professores que eu gosto de citar. Avelino Bastos especialmente na área do design; Jair Fernandes, o Maxuxo, que me ensinou a termomoldagem, um método muito diferenciado e que nós temos patenteado, eu e ele, em parceria de 50% para cada; Paulo Araújo e outros, que me apresentaram materiais diferenciados, como o kevlar, o carbono e a madeira, materiais hoje comuns na fabricação de prancha mas que na época não eram usados. Assim, conseguimos ser pioneiros na utilização de materiais nobres e de tecnologias diferenciadas na fabricação de pranchas, já há quase dez anos a minha marca Power Light existe com muito diferencial. Que é o que a gente buscou: tecnologia, materiais diferenciados, a leveza, e o estudo das quilhas (hidrodinâmica). 

MURAL: E a trip na Indonésia, como será?

GUGA ARRUDA: A Indonésia tem as melhores ondas do mundo. São mais de 17 mil ilhas, com formação vulcânica e corais ao redor. Então as ondas estão lá. Tenho mais de dez temporadas e bastante experiência naquele lugar com aquelas ondas, tenho muito carinho pelo povo e pela cultura. Aprendi demais. Hoje eu vivo este projeto pessoal que envolve ir para a Indonésia todo o ano. Isso se tornou possível graças a uma parceria com o capitão Cadu e com o Bruno Veiga, que tem o barco Moon Palikir nas Ilhas Mentawai. Eu vou como treinador. 

MURAL: Como surgiu esse projeto?

GUGA ARRUDA: Consegui transformar o meu desejo de surfar na Indonésia em um trabalho. Isso viabilizou o meu projeto de todo o ano juntar um grupo para encontrar as melhores ondas e para ter um treinamento de desenvolvimento técnico. Sejam os alunos atletas de alta performance, os que só querem curtir uma viagem legal, ou os mais iniciantes, mas que estão querendo ver uma água azul e uma onda perfeita, sejam os amigos, então, nessas pessoas, encontrei o público que me apóia e investe em mim para, juntos, realizarmos o sonho de surfar as melhores ondas do mundo.

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